"Boa tarde. Nós somos do jornal Público. Posso fazer-lhe uma pequena pergunta? É muito rápido e com uma pequena fotografia, que o meu colega tira-lhe, tipo passe. Sai a preto e branco!"
Mas para quê?, perguntam alguns trauseuntes.
E eu explico:
"É um pequeno inquérito de rua. Fazemos uma pequena pergunta, sobre um determinado tema da actualidade, a quatro pessoas e sai a resposta de cada uma com a respectiva fotografia. Chama-se Vox Populi e sai diariamente no caderno local do Público."
Esta, meus caros, é a minha fadiga todos os dias úteis da semana há já um ano e mais de um mês!!!! Não me livro disto por nada... O vox populi, aqui no jornal, é da alexandra reis! Sim é meu...
Eu até sonho todos os dias com ele. Quando não o faço, massacra-me a pena de não o ter feito.
Sair para a rua e falar com as pessoas. Saber o que têm elas a dizer sobre o que se passa no país e mais concretamente em Lisboa. É algo único, acreditem!
Aqui segue o relato das inúmeras negas que levo quando pergunto às pessoas se querem responder à pergunta do vox... Elas servirão para vocês perceberem o quando eu vivo e amo o vox populi...
"Não, obrigado", dizem inúmeras pessoas mal eu as abordo dizendo apenas o "boa tarde" e sem dizer o resto sequer. Mas.. não obrigado porquê!!??? Eu não estou a vender nada! Não quero dinheiro.. nada!
"Com foto?! Não não...", ao que eu respondo: "mas olhe o meu colega é óptimo a tirar fotos!" Mas, não as consigo convencer... Quer dizer, algumas, muito poucas, até consigo convencer, mas acho que é mais pelo ar de desespero que faço transparecer através do meu sorriso ingénuo e do franzir dos meus olhos que elas aceitam...
Há casos em que depois de ter conseguido a tão esperada resposta, as pessoas dão-me um não rendondo. "mas isto é com fotografia?", dizem quando o meu colega prepara a máquina. "Sim...", digo. "Eu tinha-lhe dito...." Resposta para o lixo e tempo perdido.
Já me aconteceu situações em que as pessoas me ameaçam - literalmente ameaçar: com berros e insultos - de me fazer isto e aquilo se elas virem a resposta e a foto dela no dia a seguir no jornal. Quer dizer!!! Depois de eu ter explicado tudo e dito a lengalenga que já está impregnada na minha cabeça elas no fim dizem que não! Não há paciência que aguente!
Mas aqui a alexandra é sempre muito simpática e aguenta estes desaforos todos.
Também há outros casos em que digo e repito vezes sem conta aquela lengalenda e... no fim dizem-me: "Ah! Sim, sei o que é... aquilo que também aparece no jornal Metro! Hummm., Não, não..."
"Estou com muita pressa", dizem aqueles que estão molengamente a ver as montras.
"I don't speak portuguese", dizem num sotaque aportuguesado. Ou seja, são portugueses!
A rua para onde vou fazer o vox é quase sempre a mesma - a ribeiro andrade. Um dia, não há muito tempo, decidi passar para o outro lado da rua. Depois de ter abordado um senhor, ele disse-me:
"mas você agora vem para este lado da rua? quer dizer... eu passei a vir para este lado para você não me chatear com isso, e agora vem para aqui...."
Uma raiva enorme estava em ebulição dentro de mim. Mas cá fora, eu esboçava um grande sorriso: "Vá lá, é muito rápido...", dizia eu. No fim, o homem acabou por responder...
Pois é, meus amigos... Percebem por que é que eu adoro fazer o vox populi!!!!
É por todas estas experiências...
Mas, confesso... o vox está dentro de mim. Já não me consigo desprender dele. Eu digo que já não posso mais com ele, que estou farta, que se ele acabar de vez que eu faço uma festa...
Mas isto no fundo não passa de uma relação de amor-ódio.
O vox gosta de mim. Ele só me quer a mim. A mais ninguém. Eu não posso com ele, porque é muito chato e faz-me passar por situações que eu passo a vida a engolir como se fossem sapos, mas no fundo.. eu gosto dele e já me habituei a ele.
Se há algum dia em que eu não o faço.. dou um longo suspiro de contentamento, mas depois fico com remorsos... "Hoje o vox deve ter ficado triste, porque eu não sai com ele..."
Beijos a todos.